Política e Direito

As três etapas para transformar cidadão em zumbi, na visão de Arendt
Quando estudamos a história do Brasil, não é difícil notar que pouca coisa mudou quanto as estruturas de controle social. Os portugueses sempre trataram o Brasil como um império e não como um reino. Isso porque um reino é menor e sua realidade social é mais homogênea, portanto mais fácil de governar. Impérios são grandes e desafiadores, detentores de várias realidades.
No Brasil predominavam pobres, escravos, analfabetos, províncias afastadas e elites coloniais rivais, tudo isso configurava uma panela de pressão de proporções continentais. Para garantir o controle de uma colônia 99 vezes maior que a metrópole, a estratégia da coroa consistia em manter o povo ignorante e isolado, para isso não foram criados jornais, correios e muito menos universidades.
Não é à toa que a elite e os “homens fortes da república” instituíram como lema do país Ordem e Progresso, era preciso manter tudo em ordem, os escravos, os pobres, os rebeldes, etc, para então progredir. Um slogan um tanto quanto impositivo.
Um segundo ponto importante do controle social foi a elaboração da cultura de que a nossa independência foi heroica e gloriosa. Desde o início construíram a identidade de que somos pacíficos e não reagimos as grandes transformações.
Segundo Hannah Arendt*, são necessárias três etapas para transformar um cidadão em um “cadáver vivo” ou se preferir “zumbi”. A primeira etapa consiste em matar a pessoa jurídica desse indivíduo, privando ele de seus direitos. Na segunda etapa mata-se a pessoa moral, tornando sua morte anônima e sua consciência inútil. Por fim sua identidade única é eliminada, essa terceira etapa envolve torturas, sequestros e claro assassinatos. Esse é um modus operandi que você encontrará não só no Brasil Colônia, como no Brasil atual.
A realidade é que não só no Brasil, mas em grande parte dos países uma elite rica sempre controla as instituições políticas e sociais estratégias, tais como a mídia e o sistema financeiro, ou seja, todo o funcionamento desses países favorecem essas elites.
Mudanças são desafiadoras, já que toda essa estrutura que domina a sociedade (dos jornais aos bancos) é a mesma estrutura que quer manter os benefícios da elite.
Hannah Arendt* - Nascida Johanna Arendt no dia 14 de outubro de 1906 na Alemanha, Hannah Arendt se tornou uma das teóricas políticas mais influentes do século 20. Fugiu do nazismo em 1933 e, quatro anos depois, perdeu a nacionalidade alemã e virou apátrida até se tornar cidadã americana em 1951. Morreu em Nova York, no dia 4 de dezembro de 1975, aos 69 anos.
Seu principal conceito, o de pluralismo político, defende a importância de existir igualdade política e liberdade, com tolerância e respeito às diferenças, visando à inclusão. É um dos princípios básicos das democracias modernas, pois é entendido como a ausência de uma visão da sociedade definida por um só grupo ou por uma só pessoa (totalitarismo, na visão de Arendt). Graças a esses pensamentos e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel relevante nos debates sobre o assunto até hoje.
FOTO/CAPA/divulgação - Hannah Arendt
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